Por Ricardo Almeida
A palavra "brain rot", eleita pelo Dicionário Oxford como a palavra do ano em 2024, é um grito de alerta para a situação alarmante em que nos encontramos. Em tradução literal, “brain rot” significa “cérebro podre”, uma metáfora poderosa para descrever os efeitos da exposição prolongada e descontrolada a conteúdos inúteis nas redes sociais. Ao mergulharmos diariamente em um mar de informações sem relevância, estamos, sem perceber, destruindo nossa capacidade de raciocínio, memória e atenção.
Pesquisas recentes apontam para os danos cognitivos que o consumo constante de conteúdos fragmentados — vídeos curtos, memes e debates rasos — pode causar no cérebro. Ao invés de fomentar o aprendizado ou a reflexão, esse tipo de conteúdo muitas vezes promove distração, superficialidade e, em casos mais graves, ansiedade e depressão. A sensação de estar "sempre conectado" acaba, ironicamente, desconectando-nos de nós mesmos e das relações reais, afetando nossa saúde mental.
O fenômeno do "brain rot" evidencia uma deterioração cognitiva crescente. Ao substituir o tempo de leitura, aprendizado ou conversas significativas por rolamentos infinitos de timelines recheadas de conteúdos irrelevantes, estamos minando nossa capacidade de pensar criticamente e de nos concentrar em tarefas que demandam mais foco.
Estudos de neurociência mostram que o uso excessivo das redes sociais pode alterar a forma como nosso cérebro processa informações, reduzindo a habilidade de concentração prolongada e promovendo uma busca constante por recompensas rápidas, como curtidas e comentários. É o vício pelo imediatismo, pelo superficial, que está apodrecendo nossa mente.
As consequências disso são sentidas no dia a dia: desde a diminuição da produtividade até a dificuldade em lidar com temas complexos. Estamos nos tornando mentalmente preguiçosos, incapazes de aprofundar pensamentos e analisar problemas em suas múltiplas camadas.
Portanto, é urgente refletir sobre os hábitos de consumo de conteúdo digital e buscar um equilíbrio que permita o uso saudável da tecnologia. A palavra do ano não foi escolhida ao acaso — ela reflete a era da dispersão e da superficialidade em que vivemos. Se não mudarmos agora, corremos o risco de ver nossos cérebros apodrecerem cada vez mais, afundados em um mar de inutilidade digital
Ricardo Almeida é gestor de saúde suplementar, graduado em Pedagogia pela Universidade Federal de Pernambuco, Master em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas, pós-graduado em Gestão da Inovação, Tecnologia e Empreendedorismo; Design Thinking e gestão de negócios.
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