Vivemos em uma era marcada por mudanças comportamentais profundas, onde a tecnologia, especialmente as redes sociais, reconfigura a maneira como nos relacionamos, trabalhamos e até percebemos o mundo. As pessoas, cada vez mais, parecem viver por trás de filtros, escondidas em perfis cuidadosamente curados, onde a autenticidade é substituída por uma versão idealizada de si mesmas.
A busca incessante por validação virtual molda comportamentos e prioridades. Eventos significativos não são mais vividos plenamente, mas registrados para ganhar "likes" e "shares". Em festas, shows ou até reuniões familiares, o impulso de capturar o momento para as redes sociais frequentemente supera o desejo de realmente estar presente. O impacto dessa mudança é profundo: as memórias são fragmentadas em postagens, muitas vezes distantes da realidade vivida.
Os relacionamentos também sofrem transformações drásticas. Aplicativos de namoro se tornaram a norma para encontrar parceiros, onde deslizar para a direita ou esquerda em uma tela se sobrepõe ao tradicional encontro cara a cara. Essa superficialidade na escolha de companheiros pode levar a conexões menos profundas e um aumento na sensação de solidão, mesmo em um mundo hiperconectado.
Outro aspecto preocupante é a crescente tendência de priorizar a filmagem de situações de emergência ou de ajuda ao próximo em detrimento de ações concretas. Vemos, com frequência alarmante, pessoas preferindo gravar acidentes ou atos de violência em vez de intervir. A necessidade de postar conteúdo relevante e atraente supera, muitas vezes, a compaixão e a responsabilidade social.
Esse comportamento não apenas diminui o senso de comunidade, mas também afeta nossa empatia. A exposição constante a imagens e vídeos chocantes pode nos dessensibilizar, tornando-nos mais insensíveis ao sofrimento alheio. À medida que buscamos cliques e curtidas, corremos o risco de perder nossa humanidade.
Aonde essa jornada nos levará? Se continuarmos nessa trajetória, poderemos nos encontrar em uma sociedade onde a conexão humana genuína se torna cada vez mais rara. A pressão por perfeição e aceitação online pode gerar níveis ainda maiores de ansiedade e depressão, especialmente entre os jovens. A cultura da comparação incessante pode corroer a autoestima e a saúde mental, levando a um ciclo vicioso de validação efêmera.
No entanto, há esperança. A conscientização é o primeiro passo para a mudança. Precisamos reavaliar nossas prioridades e lembrar a importância do momento presente. Incentivar a autenticidade, promover o bem-estar digital e fomentar a empatia real são caminhos essenciais para resgatar nossa humanidade em meio à revolução digital.
A sociedade dos filtros pode ser desafiadora, mas também nos oferece uma oportunidade única de refletir sobre o que realmente importa. Em um mundo onde tudo parece ser para mostrar, que tal focarmos mais em viver?
Ricardo Almeida, é Pedagogo, graduado pela Universidade Federal de Pernambuco, Pós-graduado em Marketing pela Escola de Pós-graduação em Economia da Fundação Getúlio; Pós-graduado em Gestão da Inovação Tecnologia e Empreendedorismo; e Gestão de Negócios e Design Thinking